domingo, 13 de maio de 2012

Menos filhos, mais tarefas, o mesmo amor

Crescer, casar e procriar. Esse deixou de ser o projeto de vida das mulheres modernas. Segundo dados do último Censo (2010) do IBGE, a taxa de fecundidade da brasileira continua a cair, quando comparada àquela registrada na década de 1960, e igualmente constatada no Rio Grande do Norte. Na década de 60, a mulher potiguar tinha em média sete filhos (7,46) e, meio século depois, a amostragem apresentou uma taxa de fecundidade quatro vezes menor - dois (1,99) filhos para cada mulher.


Andréa Cariello, 41, e Pedro. Trabalho em casa, depois que foi mãe, para priorizar o único filho
Andréa Cariello, 41, e Pedro. Trabalho em casa, depois que foi mãe, para priorizar o único filho

Independente do tamanho da prole, a felicidade de ser mãe é sem limites. Não reduz, nem aumenta em função das mudanças comportamentais. O comparativo dos dois últimos censos (2000 - 2010) apresenta diferenças que comprovam a redução dos números da taxa de fecundidade total - número da expectativa de filhos médio que uma mulher tem na idade reprodutiva.

Em demografia, a taxa de reposição para manter a população deve ser em 2,01 (na qual as crianças substituem os pais). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas acompanha a situação, e especula uma projeção para a redução da população do RN a partir de 2038, se os números continuarem a reduzir.

Em 2000, a média brasileira era de 2,38 filhos por mulheres; já em 2010 , o número baixa para 1,90, uma diferença relativa de 20,1% a menos. No Censo de 2000, a mãe norte-riograndense tinha 2,54 filhos e em 2010 esse número cai para 1,99.

As razões apresentadas pelo analista do IBGE, Ivanilton Oliveira, na interpretação dos dados, são a busca da mulher por melhor qualificação profissional, inserção no mercado de trabalho, o compromisso de chefiar famílias, assim como, campanhas do governo para reduzir as taxas de crescimento demográfico e a eficácia dos métodos contraceptivos. "Isso, a cada década foi aumentando. A mulher com o nível de responsabilidade maior não tem tempo suficiente para cuidar de uma certa quantidade de filhos", afirma Ivanilton Oliveira.

Ainda segundo o analista, o nível socieconômico da mãe está diretamente relacionado ao número de filhos. Um exemplo da típica mulher do Censo 2010 é a arquiteta, Andréa Cariello, de 41 anos. Esposa, mulher, multiprofissional e mãe, Andréa se desdobra para dar conta de tantas atividades, mesmo com apenas um filho. "Os meus horários são os horários dele, posso faltar e atrasar um compromisso meu, mas dele, jamais", conta. Ela adaptou-se a se alimentar no carro. É no carro, também, o local de maior interação com a criança. Enquanto busca ou deixa Pedro em alguma das atividades eles conversam e se divertem. Pedro hoje tem semanalmente natação, inglês, reforços escolares e karatê, além da escola todos os dias. "Sinto que ele me completa até no olhar. Na última vez que viajamos o pai dele não pode ir, e ele me acompanhou nas compras numa boa" relata a mãe. E o menino completa dizendo: "E eu adoro".

Inicialmente a opção do casal foi por dois filhos, mas o tempo passou e outras prioridades foram chegando. "Eu preferi ser uma mãe presente, esses são os momentos que tenho com ele. Entre uma atividade e outra, podia contratar um motorista, mas quero fazer parte do seu cotidiano", observa. Para unir a rotina da mãe com a do filho, o escritório da arquiteta foi pra dentro de casa, no estilo home office, mudança que agradou a ambos. "Depois do nascimento de Pedro, fiquei tão apaixonada que pensei em parar de trabalhar para me dedicar somente a ele".

Quando questionada acerca do segundo filho, Cariello diz que não há mais tempo "Hoje aos 41 anos, não me vejo começando tudo outra vez, não iria conseguir ser uma mãe tão presente com dois filhos, foi uma escolha que fiz."

Contrariando as estatísticas de queda da taxa de fecundidade, está Marinez Silva, 36 anos, moradora da comunidade Passo da Pátria. A dona de casa tem cinco filhos, dos quais quatro ainda moram com ela. "Foi tudo sem planejamento, as coisas vão acontecendo" conta Marinez, que engravidou do seu primeiro filho aos 19 anos. 
Marinez Silva, 36, com os quatro dos cinco filhos. Contrariando as últimas estatísticas
Marinez Silva, 36, com os quatro dos cinco filhos. Contrariando as últimas estatísticas

Hoje o sustento da casa é garantido pelo atual marido, que trabalha como estofador, e a dona de casa vende lanches para complementar a renda familiar. "A maior alegria de uma mãe é ter os filhos por perto, mas é preciso ter condições", afirma. Gastos com saúde, educação, alimentação e vestuário são os mais importantes no orçamento dessa família composta por sete pessoas "A gente tira da gente para dar para os nossos filhos".

As duas mães dialogam na sentimento do que é ser mãe, na data festiva ambas querem apenas a felicidade para a tão amada prole.

Individualismo substitui a prioridade da família

A professora do Departamento de Ciências Sociais da UFRN e coordenadora do Núcleo Transdisciplinar Tirésias, Berenice Bento, analisou os números da fecundidade no Rio Grande do Norte através do ponto de vista social. Berenice afirma que é surpreendente a confirmação desses dados "A taxa do RN chega perto de padrões europeus, a fecundidade da mulher francesa é 1,7". 

E esses novos padrões sociais originam-se da evolução do papel da mulher na sociedade e no planejamento familiar, mas também, no novo formato de conceito que a sociedade está se empregando. "Hoje há o deslocamento da prioridade da família para o indivíduo, um discurso individualista no sentindo sociológico, e não pejorativo. Estamos preocupadas com o 'meu'; meu corpo, a minha vida, a minha profissão" relata a professora.

Berenice explica que os valores, com o passar dos anos, vão se modificando. As heranças, sejam elas consanguíneas ou materiais, não possuem tanta importância como antigamente. Cresce o discurso individualista, no qual o ser humano é o sujeito das suas decisões, e cai em desuso o viver para o benefício da instituição, no caso a família. "Você só irá viver para família se isso for o que realmente te satisfaz, caso contrário, existem outras opções." relata.

Os dados preocupam no aspecto das políticas públicas. As pessoas estão vivendo mais e a pirâmide etária está se equilibrando, quem paga a conta no final? Financeiramente, os responsáveis  por contribuir para a aposentadoria dos que estão envelhecendo são os jovens. "Estamos vivendo um novo tempo, diante de uma nova família, um novo desejo, novo formato de sexualidade, precisamos nos atentar para isso e refletir", completa a especialista. 


Fonte: Tribuna do Norte

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